A conjuntura e as tarefas do movimento estudantil

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Esta apresentação foi realizada durante o “Seminário de Formação Política: Movimentos Sociais e Serviço Social”, proposto pelo Centro Acadêmico de Serviço Social da UFPI/THE, onde nós, do Comitê de Propaganda da Rede Estudantil Classista e Combativa compomos uma mesa sobre Movimento Estudantil (M.E.).
Nossa linha de raciocínio se forjou a partir do Levante dos Marginalizados de Junho de 2013 e suas consequências para o Movimento Estudantil, uma vez que aquele dado momento foi essencial para apontar uma renovação nas formas de luta e organização popular, assim como apresentar um sujeito social que até então pouco tinha se expressado.
Este novo setor, que chamaremos aqui de “classista-popular” não pode ser entendido se retirado de sua condição de existência. Condições estas, precárias: Dificuldades estruturais ou financeiras no seu local de estudo (escola/universidade), e trabalho (terceirizados, “autônomos” ou desempregados). Além disso, alia-se um setor-chave que interliga estes dois campos: A necessidade de um transporte público de qualidade, pois em sua esmagadora maioria, utilizam-se destes transportes para o deslocamento (casa-trabalho-escola/universidade). 
Esta situação socioeconômica, por sua vez, produziu o espectro de compreensão política do setor classista-popular: Por nascerem ou crescerem no mandato Lula-Dilma/PT e perceberm que grande parcela desses problemas é causa direta da gestão neoliberal do Partido dos Trabalhadores, são antigovernistas.
O antigovernismo, porém, não refreia a crítica mais profunda: Os partidos reformistas (PSOL, PSTU, PCR, etc.) não atendem suas necessidades, e afirmam isso por compreenderem que a disputa política através do voto em pouco ou em nada muda a vida da população.
A partir dessa reflexão realizada na prática, a fração classista-popular não acredita na democracia burguesa, na política parlamentar e no voto.
Um dos motivos de serem combatidos por reacionários, governistas e reformistas é este: Eles recusavam a todos os modelos parlamentaristas.

REPRESENTAÇÕES DO SETOR CLASSISTA-POPULAR EM JUNHO DE 2013.
O setor reacionário (Empresas, patrões e políticos) logo criou uma interpretação para o fenômeno: Reuniram-se e decidiram “rachar” as manifestações. “Ordeiros e pacíficos” de um lado, “vândalos e desorganizados” de outro. Além disso, por vezes argumentaram que não possuíam capacidade/intenção política. Apenas porque compreendiam que ao longo das suas vidas, as promessas feitas por políticos profissionais nunca eram cumpridas, e que eles, além de financiados por empresários, governavam para empresários, e nunca para o povo e que só restava uma alternativa: A ação coletiva, autônoma, classista e de ação direta.
Essa imagem pregada pela reação (em especial, em suas mídias – tv, internet, jornais, etc) deu forças para que surgisse um campo “nacionalista/liberal” nas manifestações. Adotaram a divisão proposta pela reação, e, ao mesmo tempo em que se diziam “patriotas” e “defensores do Brasil”, defendiam privatizações, extermínio da juventude negra e pobre, e outras medidas e ações anti-povo. Apesar de se dizerem “sem partido”, defendiam alguns partidos políticos, como PSDB, DEM, PSC, etc.
Da mesma forma, o governismo (PT, PCdoB, PCO, etc.) também “comprou” essa ideia. Passou a reprimir violentamente as manifestações populares, e a combater com mais ênfase a esfera classista popular. A crítica ácida ao governo fez com que o governismo declarasse que trabalhadores e estudantes precarizados fossem “de direita”. Os colocaram no mesmo “campo” dos nacionalistas/liberais, pois assim se tornava mais fácil silenciar, e ao mesmo tempo massacrar o setor classista-popular.
O reformismo (PSOL/PSTU/PCR, etc.) também gerou sua interpretação do fenômeno social: Em um primeiro momento tentou disputar este campo, e, sendo rechaçado, passou a combatê-lo. A principal arma era declarar sua “incapacidade política”. Para eles, não disputar a democracia burguesa, desacreditar no voto e ter na força coletiva e popular a ferramenta de luta e organização é “não ter consciência política”. Uma tentativa suja e oportunista de tentar normatizar o real através do discurso. De silenciar o combate de quem sofre constantemente as contradições sociais, políticas e econômicas. 
Já as organizações autônomas (antigovernistas e anti-reformistas) defenderam veementemente o setor classista-popular. Por compreenderem que o povo deve lutar e se organizar, viram nas manifestações de Junho de 2013 o embrião das novas forças políticas e sociais do país. Estavam certos: Em 2014, o Sindicato dos Garis do Rio de Janeiro tentou entregar a greve do setor para o governo. Os garis então enfrentaram a burocracia sindical e deram continuidade à greve: A maioria de suas reivindicações foi atendida. Da mesma forma, no final de 2015 e no início de 2016, estudantes em São Paulo, vendo a eminência da reorganização das escolas públicas, decidiram por ocupar seus locais de estudo de forma autônoma: Conseguiram barrar este golpe contra a educação feito pelo Estado de São Paulo. Estes e outros exemplos são “ecos” do setor classista-popular em Junho de 2013.

O MOVIMENTO ESTUDANTIL PÓS-JUNHO DE 2013.
Com o acirramento político em Junho de 2013, a conjuntura do Movimento Estudantil se modificou drasticamente, organizando ou desorganizando coletivos que atuam ou atuavam no ME.
A primeira modificação perceptível, porém não preocupante, foi o começo da organização do setor “nacionalista/liberal”. Através de grupos de estudo ou coletivos, atuam no movimento estudantil através de promoção de festas e de disputa, em alguns casos, de C.A.s e D.A.s. Suas intenções para estes espaços estudantis é tão somente transformá-los em “Empresas Jr.”, emitindo carteirinhas para geração de “caixa”.
O governismo (JPT, Levante Popular da Juventude, UJS, UNE, UBES, etc.), que já sofria duros golpes no desde o início do governo Lula, intensificados com o governo Dilma, foram aniquilados do Movimento Estudantil, e recentemente ganharam forças através da falsa polarização política brasileira, isto é, só conseguem arregimentar militantes através do slogan “Não Vai ter Golpe”.
O reformismo (ANEL, Reviravolta, RUA, UJR, AMES, etc.) bifurcou-se. De um lado, implodiu. A crítica das bases contra a cúpula, e o imobilismo/burocracia da última fizeram com que se desligassem da organização e por vezes, até mesmo do partido que a guiava. Do outro lado cresceu. Aglomerou em suas bases a juventude social-democrata, que acredita nas eleições e no voto, mas que combatem o governismo. Outra causa de seu crescimento está em uma das fraquezas do último setor que trataremos aqui.
O setor classista-popular manteve-se fiel as posições adotadas em junho de 2013. Continuou de forma autônoma e combativa a militar no Movimento Estudantil e com mais força, mesmo que de forma dispersa. Onde havia organizações estudantis que contemplassem essa forma de luta e organização, este campo passou a atuar e dedicar suas forças a estas. Onde não havia tais organizações, passaram a desenvolver coletivos, que em geral eram efêmeros e centrados em ações locais, ou, por se verem isolados, começaram a “colaborar” com o reformismo.

AS TAREFAS DO MOVIMENTO ESTUDANTIL.
O movimento estudantil precisa se organizar. Isso não é novidade; aliás, é uma necessidade histórica. Mas o que Junho de 2013 apontou com mais ênfase, é que não se pode, porém, organizar-se em qualquer tipo de coletivo. Cada um possui uma plataforma política, que desenvolve suas ações e táticas dentro do M.E. 
É certo que as organizações governistas não representam os estudantes. É preciso ainda reconhecer que o reformismo não possui capacidade de apontar os rumos da ação dos estudantes. São limitados pelo programa que defendem, geralmente burocráticos e onde a decisão é tomada por uma cúpula, ou o seu total inverso: A falta de um programa e a desorganização coletiva, desligada da realidade dos estudantes.
Para o movimento estudantil voltar a ser uma ferramenta útil na luta, é preciso romper definitivamente com a reação, o governismo e o reformismo. É preciso reconhecer suas falhas e traições históricas, geralmente causadas por disputas que em nada contemplam os estudantes. É preciso perceber a necessidade de se construir um novo caminho no Movimento Estudantil. Um caminho de autonomia e combate permanente contra os inimigos dos estudantes e dos trabalhadores. Assumimos, através de alguns anos militando no M.E. piauiense, que este reconhecimento e caminho só podem avançar dentro de uma organização que tenha em seu programa a efetiva e sólida defesa do povo. Esta organização, ao nosso ver, é a Rede Estudantil Classista e Combativa, que no Piauí desenvolve suas atividades através de um Comitê de Propaganda até solidificar-se e enraizar-se no Estado. 
Convidamos a todos e todas os/as interessados/as a conhecer e debater sobre a RECC, para posteriormente construirmos coletivamente a organização.

SEM PELEGUISMO, NEM TRAIÇÃO!
EDSON LUÍS VIVE E VENCERÁ!
ANTÔNIO DE PÁDUA COSTA, PRESENTE!
CONSTRUIR A REDE ESTUDANTIL CLASSISTA E COMBATIVA NO PIAUÍ!